Em todas as residências médicas nas quais o manejo de vias aéreas faz parte do programa, a intubação é algo que gera medo, é algo desafiador, tanto para quem está aprendendo quanto para quem está ensinando. Durante muito tempo a confirmação se o tubo estava mesmo na traquéia era um “vaporzinho” no tubo na primeira ventilação, elevação do tórax associada a ausculta, ou a famosa pergunta do chefe ao residente: e aí, viu passar?
Já no final da década de 1990 um dispositivo que detectava o CO2 expirada começou a estar cada vez mais presente nos centros cirúrgicos e em algumas UTIs com menos frequência e muito raramente na sala de emergência. A partir de 2006 se tornou obrigatório a presença de capnografia quando se faz uma anestesia geral, porém a situação da UTI e emergência não mudaram muito.
Dentre vários usos, a capnografia é o padrão outro para confirmação da intubação traqueal, e deveria estar presente sempre que uma via aérea é manejada. Na verdade ela consegue detectar se está havendo ventilação, tanto por máscara facial, quanto por um supraglótico.
Vimos ainda mais o valor da capnografia na confirmação da intubação traqueal agora na pandemia da COVID19, em que paciente eram intubados e permaneciam com a SpO2 baixa, fazendo com que muitos profissionais duvidassem se o paciente estava mesmo intubado. Pode ter certeza, que muito paciente teve seu tubo removido mesmo estando na traquéia porque houve dúvida se estava intubado. Não preciso nem dizer o tanto que isso aumenta a morbidade no manejo das vias aéreas.
Trazendo para o cenário da anestesia, em agosto de 2020 o Reino Unido presenciou a morte de uma técnica de radiografia, que seria submetida a apendicectomia por vídeo. Ela morreu por uma intubação esofágica detectada de maneira tardia. Eu sei que você está se perguntando: Mas poxa Ricardo, lá no Reino Unido eles não usam capnografia?
Claro que usam!!
É quando essas situações ocorrem que vemos o tanto que temos a melhorar. A situação foi a seguinte, o médico anestesista intubou o esôfago, mas não considerou essa hipótese, pra ele tinha intubado a traquéia. Ele começou a tratar a situação com a hipótese que fosse uma reação anafilática associada a um broncoespasmo grave, por isso não estaria havendo curva de capnografia. A questão é que mesmo nessas situações, dificilmente fica se curva de capnografia. Após vários minutos foi cogitada essa hipótese por outro colega, a paciente já havia entrado em parada cardiorrespiratória, intubaram corretamente, mas ela já havia sofrido um dano cerebral irreversível pela falta de oxigêncio e acabou morrendo.
Deixo aqui o link para a descrição detalhada desse caso, e para a página de uma campanha lançada pelo Colégio Britânico de Anestesiologia, a fim de levantar a atenção para caso tenha uma linha reta na capnografia, a intubação esofágica deve ser considerada. A campanha é: NO TRACE=WRONG PLACE.
https://www.judiciary.uk/publications/glenda-logsdail-prevention-of-future-deaths-report/
Tomei a liberdade de legendar um vídeo falando sobre isso, no qual o brilhante Tim Cook explica essa campanha.
Compartilhe esse artigo e essa mensagem, mesmo que traduzida: SEM TRAÇADO=LUGAR ERRADO.
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