Dentro da medicina, ou melhor, acredito que em todas as áreas existe esse jargão no aprendizado de alguma tarefa: primeiro olha, depois faz e então já ensina.
Quando comecei a estudar mais a fundo via aérea e vi que não queria apenas reter aquele conhecimento para mim, mas sim compartilhar (pois na verdade eu acho que ajudo mais pessoas ensinando profissionais a manejar melhor via aérea que anestesiando apenas), eu resolvi estudar princípios de andragogia e fui além disso, fui estudar como seria a melhor maneira de se aprender um procedimento, por mais básico que seja.
Nessa busca, participei de algumas aulas do programa STRATUS do Brigham and Women Hospital de Boston, eles possuem um centro de simulação incrível lá, quem tiver interesse segue eles no twitter, sempre tem eventos grátis de alta qualidade.
Então, como aprender um procedimento complexo de maneira eficaz? A idéia é “quebra-lo” em procedimentos mais simples e menores, ou melhor dizendo, em passos.
Vamos usar como exemplo algo mais simples como a venóclise periférica (punção venosa periférica), quais seriam os passos:

  1. Confirmar qual a solução a ser infundida (cloreto de sódio ou ringer com lactato por exemplo) associada outras medicações a serem administradas
  2.  Pegar os equipamentos necessários para a realização do procedimento (ideal seria uma lista sempre em procedimentos com maiores, pra não esquecer de nada)
  3. Falar com o paciente e esclarecer o procedimento
  4. Preparar o local e deixar os matérias todos a mão
  5. Passar o garrote e identificar a veia que julga mais adequada
  6. Fazer a assepsia
  7. Inserção da agulha e confirmar o refluxo adequado de sangue
  8. Progredir o cateter e fixar
  9. Conectar a solução e/ou medicações na taxa de infusão desejada
  10. Documentar a data de inserção, quem colocou e o início de infusão daquela solução

Vejam que uma simples punção venosa pode ser quebrada em vários passos para que seja realizada da maneira mais adequada possível.
Após quebrar o procedimento em fases, temos a fases do aprendizado desse procedimento, que se dividem em 3: congnitiva, associativa e autônoma.
A fase cognitiva normalmente é aquela inicial, e é aí que o conteúdo online ajuda muito, você deve saber o que fazer, qual o objetivo naquele ato e deve memorizar todos os passos do procedimento.
Na sequência temos a fase associativa, essa é a fase em que você deve treinar, deve manipular, para treinar habilidades de articulação e num nível mais avançado de precisão dos seus movimentos. Nessa fase normalmente você já faz os passos de maneira quase que integrada.

Por fim temos a fase autônoma, na qual todos os passos já estão integrados na cabeça do aprendiz e a maior parte das ações é feita pelo subconsciente, reduzindo a carga cognitiva. Imagina se a carga cognitiva de todos os acessos venosos centrais que puncionamos ou até mesmos das intubações fossem iguais as iniciais, se tornaria inviável fazer o volume de procedimentos que fazemos.

É isso que procuro fazer quando vou ensinar em cursos, workshop, aulas e até mesmo aqui e nas redes sociais, sistematizar e quebrar os procedimentos para facilitar o aprendizado.
Da próxima vez que for tentar aprender algum procedimento, que tal pensar nesse método para tentar facilitar e também não perder nenhuma etapa?