Você vai fazer uma viagem de avião, e te deram duas opções para você escolher:
– você pode ter como piloto do avião um piloto jovem, inexperiente, mas extremamente fiel a todos os checklists de segurança e orientações formais, tem uma ótima relação e se comunica muito bem com a equipe.
– outra opção é um piloto extremamente experiente, inclusive foi piloto das forças armadas, altamente capacitado, mas justamente por já ter feito isso tantas e tantas vezes, tem certeza que faz tudo certo e não precisa ficar cumprindo essa chatice de protocolos e checklists. Além disso, não costuma dar ouvidos aos outros membros da tripulação, afinal ele além de comandante da aeronave, é muito mais experiente que todos eles juntos.

Eu não sei vocês, mas eu iria preferir o piloto jovem.

A situação acima apenas ilustra algo extremamente comum no dia a dia das instituições de saúde, que ainda possuem uma hierarquia rígida, com uma resistência grande de alguns profissionais a cumprir essas “chatices”. Um exemplo muito simples é o checklist de cirurgia segura, onde se confere alguns dados do paciente como nome, data de nascimento, lateralidade do procedimento (caso de aplique), presença de alergias, e até mesmo se há risco de via áerea difícil e/ou broncoaspiração! Olha que honra, via aérea difícil nesse checklist! Porque será que ele está aí? Talvez seja porque apesar de raro, quando ocorre, é catastrófico.
É muito comum nosso cérebro nos pregar peças, ainda mais quando “baixamos a guarda”. Para isso servem os checklists, justamente para evitar que esses erros aconteçam. Inclusive, um checklist específico para o manejo da via aérea é sempre bem vindo.

Quando executamos um checklist, o ideal é que ele seja feito em voz alta, afinal trabalhamos em equipe, e todos devem saber do plano e das particularidades daquela situação que está sendo checada. O checklist em voz alta faz com que todos confiram a informação e de certa maneira diminui a hierarquia, fazendo com que todos se sintam a vontade para contribuir.
Essa rápida abordagem sobre a importância do uso de checklists faz parte de uma iniciativa maior que é a criação da cultura de segurança do paciente, que envolve vários outros aspectos. Um ambiente em que há uma cultura de segurança forte faz com que ninguém sinta medo de reportar o relatar algum erro e/ou conduta inadequada.

Aproveito aqui para sugerir o livro do idealizador do checklist de segurança segura, o cirurgião Atul Gawande, chamado de “Checklist Manifesto”. É um livro incrível, de leitura tranquila, que conta o poder dessa ferramenta, principalmente nos ambientes de alta complexidade, com área da saúde e principalmente o manejo de vias aéreas.

Eu não sei vocês, mas quando eu precisar, quero me tratar uma instituição que tenha uma cultura de segurança forte, e que obrigue mesmo os “pilotos velhos” cumprirem todos os checklists que forem necessários.

E você?