Você chega no seu primeiro plantão em uma Unidade de Pronto Atendimento, ou pode ser em uma Unidade de Terapia Intensiva e até mesmo um centro cirúrgico, depende da sua área de atuação, e em qualquer um desses cenários você muito provavelmente vai ter que manejar uma via aérea nesse plantão.

É curioso que muitos, talvez a maioria dos profissionais, mesmo sabendo disso, tendo essa certeza, não se prepara para conduzir esse manejo de maneira adequada. Aqui eu nem digo apenas cursos práticos ou conhecimento teórico, mas a estrutura disponível no local de trabalho.
Eu duvido que todos que vão ler esse texto saibam exatamente qual o kit de via aérea cirúrgica (cricotireoidostomia) que possuem no seu local de trabalho ou onde ele está. Qual ou quais dispositivos supraglóticos estão disponíveis para resgatar a via aérea numa situação não intubo – não oxigeno.

Como você vai solicitar uma estrutura adequada, se nem sabe o que está disponível nem onde está?
Dito isso, gostaria de abordar a habilidade que considero mais essencial para um profissional que está manejando uma via aérea, a ventilação com máscara facial.
Em qualquer um dos cenários em que precisamos abordar uma via aérea, tanto na emergência quanto nas anestesias gerais, na maioria das vezes fazemos uma indução, que faz com que o paciente fique em apnéia e perca seus reflexos de via aérea. Nessa situação normalmente o paciente está em posição supina, o que faz com que a obstrução da via aérea seja praticamente inevitável.

Devido a curva de dissociação da hemoglobina, a hipóxia se demora um pouco a ocorrer caso esse paciente não seja oxigenado, e se torna mais evid bente a partir da SpO2 de 85%, momento a partir do qual em 20-30 segundos ela vai cair abaixo de 50% caso não haja oxigenação. E aí meu amigo, o desespero começa!
Um simples posicionamento do paciente com o trágus na linha do esterno já é um bom começo, vai ajudar em praticamente todas as abordagens que forem feitas nas vias aéreas.

E qual o próximo passo em um paciente em apnéia saturando 30%? Talvez seja melhor restaurar os níveis de oxigênio para realizar uma intubação mais tranquila, então vamos a aquela habilidade que todo mundo acha que nasce sabendo fazer, a ventilação com máscara facial!

Neste artigo não vamos abordar o dispositivo utilizado para ventilar, seja ele uma dispositivo balão-válvula-máscara ou outro, isso será assunto para outra discussão, mas vale destacar que assim como máscaras laríngeas, cânulas oro e naso faríngeas, tubos traqueais, as mascara faciais também tem tamanhos. Infelizmente não é “one size fits all”. Uma máscara bem adequada ao rosto do paciente vai facilitar uma ventilação adequada.

Após o posicionamento e tamanho da máscara adequados, vamos para o “grip”, a pegada para desobstruir a via aérea e selar a máscara no rosto do paciente. Todos eles descritos abaixo, com 2 ou 4 mãos.

 


 

Se mesmo assim, nosso paciente ainda não ventila, podemos utilizar cânulas oro ou nasofaríngeas, que irão fazer o que nossa pegada não está conseguindo, e desobstruir as vias aéreas. Elas podem ser utilizadas já de início ou após insucesso na ventilação sem estes dispositivos. Aqui temos alguns exemplos desses dispositivos que também discutiremos em outro momento.

 

 

Há muito a ser discutido sobre ventilação com máscara facial, por isso fique ligado por aqui para mais discussões sobre esse importante tópico que muitas vezes não tem o destaque merecido.
Lembre-se, nenhum paciente morre de deficiência aguda de plástico na traquéia (ou seja, pela ausência de um tubo), os pacientes morrem por hipóxia, por falta de oxigenação, e aí entra a habilidade de uma boa ventilação com máscara facial!